Ah, imagina se no final da vida, São Pedro, dono da chave do céu, pegasse a relação de todas as suas atitudes, as verdadeiras intenções, e desse pontos para cada ação. Se fosse algo positivo somava o valor equivalente a ação, mas se fosse negativo, o valor era subtraído. Um detalhe, ele sabe exatamente quando você faz algo apenas visando a autopromoção, o que faz com que qualquer boa ação se torne péssima se a intenção for errada.
Nessa somatória, Eleanor, Tahani, Chidi e Jason vão parar no bom lugar, algo um pouco contraditório, já que eles não possuem, digamos, um currículo invejável. Cada morador do Bom Lugar recebe uma casa decorada com exatamente tudo que você mais gosta, do jeitinho que vai te garantir a felicidade eterna, incluindo uma alma gêmea, aquele amor feito especialmente para você. A vizinhança tem tudo o que você possa desejar, como lojas de sorvete de iogurte em cada esquina, quem não iria sonhar com isso?! Eu não.
Entre todas as mansões do Bom Lugar, Eleanor recebe uma casinha típica da classe média, com pinturas de palhaços e máquinas de camarão, exatamente o que ela não queria, o que era bastante estranho, pois o lugar devia ser a personificação do que ela mais gostava na vida e nem palavrão ela conseguia falar. A esperança continuava viva, pois cada morador tinha sua alma gêmea e ela deveria ter uma que fosse a combinação perfeita, mas na verdade, é só Chidi, um nerd professor de ética, que não consegue tomar uma simples decisão, o oposto de todos os homens que ela já se relacionou.
A mansão mais luxuosa da cidade é da filantrópica Tahani, uma mulher milionária que investiu toda a sua fortuna em missões humanitárias e organizando eventos para arrecadar fundos para ajudar causas sociais. Uma pessoa maravilhosa, que com certeza deve está no topo dos mais bem pontuados, se não fosse suas brigas constantes com sua irmã e a inveja de seu sucesso. Seu par perfeito é um monge que fez voto de silêncio pouco tempo antes de morrer, e assim Jason permanece nesse silêncio sepulcral até a sua eternidade.
Algo de muito errado estava acontecendo ali, nenhum dos quatro estava com a vida perfeita como prometida por Michael, o arquiteto do Bom Lugar, Eleanor não era essa mulher que todos pensavam, ela não tinha lutado pelos direitos humanos, nem salvado condenados a morte, sem contar que tudo que ela fazia de alguma forma voltava contra todos os moradores do Bom Lugar de forma grotesca. A ida deles para aquele lugar era um engano, só podia ser um engano, não tinha outra explicação, mas ir para o Lugar Ruim não era uma opção, isso não, jamais!
The Good Place consegue falar da vida pós-morte de forma bem humorada, sem almas, ou espíritos zombeteiros, apenas alguns anjos e muito demônios, muitos, mas nada assustador. O roteiro é leve e os episódios são curtinhos, você assiste a série de uma vez sem nem sentir. Os personagens não são caricatos, alguns beiram ao insuportável, mas nada que algumas cenas depois você não esteja gargalhando com alguma constatação que eles fizeram sobre a vida.
O roteiro é bem construído, a trama é cheia de pontos de virada e nada previsível, quando a gente pensa que vai ficar na mesmice, lá vem uma tirada que você nem imaginava. As piadas são leves, mas bem elaboradas, são simples mas não ao ponto do expectador se sentir um babaca, nem complicados ao ponto do expectador precisar ter um conhecimento prévio de política e filosofia, são apenas piadas leves e bem construídas, que faz com que o público consiga se identificar com elas.
Aliás, é impossível assistir a série e não ter um segundo de auto reflexão, mesmo com o cenário fantasioso e as situações exageradas, questionar o porque é tão difícil encontrar alguém que segure uma porta, dê um bom dia, ou simplesmente sorria com sinceridade, virou algo quase impossível nos dias de hoje. Ou até mesmo encontrar alguém que consiga "ganhar pontos" sem ter uma cadeia de segundas intenções que prejudique o mundo de alguma forma. Que louco! Que real! Calma, já pensou qual foi a última vez que você fez algo sem esperar algo em troco?! RECOMENDO!
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