sábado, 9 de setembro de 2017

[Cinema] Atômica

Esquece aquele filme de ação com o macho indestrutível sendo o protagonista da porra toda. Esquece aquele brucutu soltando socos e chutes, sem sofrer um único arranhão. Esquece aqueles filmes de espionagem que só tem tiro e sangue, mas é uma negação no enredo. Esquece isso tudo e lembre da Charlize Theron sendo um exemplo de mulher que pode tudo, em plena guerra fria, entre socos e paixões.

Estamos na semana que antecede a queda do muro de Berlim, um dos símbolos da guerra fria, monumento que separava fisicamente a capital da Alemanha em Ocidental e Oriental. A espiã Lorraine Broughton recebe a missão de investigar o assassinato de um oficial britânico e recuperar a listagem dos agentes duplos, porém, ao contar com a ajuda de David Percival, agente infiltrado, ela vai perceber que nessa missão nem todos são confiáveis.

O enredo é baseado no quadrinho A Cidade Mais Fria, de Antony Johnston e Sam Hart, exata definição de como Berlim se apresentava diante dos conflitos, gélida, amedrontada e torturante. O cenário que o enredo se desenvolve é bem construído, a marginalidade das ruas da capital, a ditadura que a população sofria, a tensão em cada respiração, o medo em cada ato. É incrível imaginar como as pessoas conseguiam sobreviver naquele fogo cruzado, que geralmente se apresentava de forma silenciosa e sorrateira.

A fotografia de Jonathan Sela chega ser hipnótica, as cores frias de uma Berlim Oriental, tons acinzentados passeando entre o azul e o verde, destacando a disciplina militar imposta na época, o tradicionalismo e o medo constante. Cores neon na Berlim Ocidental, região que era referência de moda, de modernidade, de quebra de barreiras, grupos insatisfeitos com a situação se rebelavam contra o governo. Um jogo de luzes e ângulos que contaram muito sobre os lados do muro.


A trilha sonora é o primeiro indício que estávamos diante de um grande filme, os grandes clássicos dos anos 80 vão enchendo as cenas de referências e trazendo um novo significado para as ações. Podemos citar Cities in Dust, de Siouxsie and the Banshees, Father Figure, de George Michael, She Lost a Control, de Joy Division, e Cat People, de David Bowie.

É contagiante perceber o quanto Charlize Theron se entregou a personagem, seus olhares intensos, sua postura, sua transição pelas várias facetas que o enredo pede, podemos ver uma mulher empoderada que é dona de si e não tem medo de seguir seus extintos e desejos. Sofia Boutella, como a exótica Delphine Lasalle, consegue incendiar a tela, banhada por luzes vermelhas e ângulos laterais, a sensualidade e a cumplicidade da personagem envolve o expectador, deixando aquele gostinho de quero mais e que ela poderia ser mais bem aproveitada.


O irônico David Percival, interpretado por James McAvoy, faz o contraponto com a poderosa Theron, seus diálogos rápidos e sua desconfiança que ela não é tão boa quanto ele, faz com que o público vibre todas as vezes que ela consegue ser mais esperta e ágil. As longas cenas de luta são de tirar o folego, algumas referencias podem ser identificadas facilmente, como o laço usado pela mulher-maravilha utilizado por Theron. Vale lembrar que a entrega foi tamanha que a atriz dispensou a dublê.

O longa não conquista a nota máxima por ter um enredo um pouco confuso, talvez seja preciso assistir duas, três vezes para entender qual o lado de cada agente duplo, ou o que cada um pretendia, mas a construção dos personagens, a escolha dos atores, a fotografia, trilha e principalmente a direção, faz com que o filme seja uma ótima opção. 


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