Ah vai! Vamos combinar que essa capa é muito amor, daquelas que você imagina uma pessoinha em cada guarda-chuva e cada uma com mil histórias para contar. Aliás imagens de pontos de passagem (faixa de pedestres) sempre remetem a retalhos de histórias, encontros de idas e vindas, momentos sendo entrelaçados. Depois da Chuva começa assim, uma esquina sendo o ponto de passagem para Laura e Edgar, suas vidas sendo entrelaçadas por uma troca de olhares e uma gentileza.
A chuva ganhava forma, mas a água ainda tentava conhecer o lugar que ia cair. Laura é uma mulher bem resolvida, sem grandes contrastes, casada com um homem amoroso, corre pela chuva para não perder a apresentação da filha. Editora em uma empresa consagrada separava os manuscritos em três pilhas, o que ainda tinha que ler, o que tinha que responder negativamente, o que ia para o lixo, facilmente o projeto de Edgar se encaixava na terceira opção, mas aqueles clichês tinham algo especial.
Edgar é um viajante, de vida e de alma, percorreu o mundo, fugiu da rota dos turistas, escreveu diários, hoje publica guias inusitados para as pessoas que buscam aventuras que vão além dos pontos turísticos. Viajou, amou, fugiu, amou, se aquietou, quase teve uma vida tradicional, mas sua alma ia além de um marido e pai exemplar. Se separou, evitou a filha, queria arriscar outro tipo de escrita, escolheu um monte de clichês e conheceu Laura.
A tempestade começa. Edgar vive em uma montanha-russa de sentimentos, Laura é tão calma quanto um lago, a troca de olhares na esquina chuvosa, o encontro na editora, o manuscrito regado de clichês, as sugestões, as mudanças. A transformação foi tão sutil, acontecia depois um café ou outro, uma volta com Eduardo (o cachorro que deveria ser cadela de Edgar), um telefonema, quando perceberam estavam afogados nessa transformação, o mundo ganhava outro sentido e a vida pedia urgência. Abrimos o guarda-chuva é hora de se proteger.
Pela janela observo a chuva. Depois do furacão é hora de contabilizar os danos, observar o que deve ser mudado, organizado, revisto. Observo o florescer. Depois a vida segue e começa uma nova história, é hora de colher os frutos. A chuva está passando e o sol voltando. Encarar a realidade pode nos trazer gratas surpresas.
A história foi narrada de acordo com os estágios e sentimentos da chuva, quando ela começa, quando se intensifica, quando ela vai embora, os personagens seguiram esse ritmo, conhecemos cada um deles, aconteceu o furacão, se acalmaram e esperamos o sol iluminar a vida deles com boas surpresas. Aliás, sempre esperamos as surpresas do fim da chuva, as coisas boas que o retorno do sol pode nos proporcionar e o título do livro caiu como uma luva, o final é surpreendente.
A autora utiliza uma linguagem cheia de pontos, respiros, pensamentos, daqueles que você lê com calma e acompanha os personagens em cada sentimento, mas não por ser uma leitura difícil, mas por cada ponto te fazer sentir a revolução dos personagens. O trabalho editorial é fantástico, além da capa contar mil histórias só em observar o movimento dos guarda-chuvas, as páginas internas trazem ilustrações que fazem referencia aos estágios da chuva. Recomendo!
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