quinta-feira, 12 de setembro de 2019

[LIVRO] Quando Fernando Morreu - Beatriz Lúcio

Quando Fernando Morreu 01

Necessário! Aliás, não só esse conto, mas todos os enredos do projeto Todas as Letras do Arco-Iris, organizado por Maria Freitas e lançado pela Editora Resistência. É um soco no estômago tantas histórias de libertação, seja de suas próprias entranhas, dos julgamentos alheios, dos rótulos. Em meio a tanta intolerância e episódios inaceitáveis, tenho que admitir que a censura vivenciada na Bienal do Rio só abriu portas para que mais obras como essa ganhassem um lugar especial no nosso coração.

Fernando era muito mais que um marido, um companheiro, um amigo, um amante, era a salvação de uma vida de julgamentos, a prova que Virgínia finalmente tinha se decidido e sua família agora podia ficar em paz. Foram 20 anos de um relacionamento maravilhoso, cheio de muito amor e hétero (como sua família aprovava), mas com a morte de Fernando decorrente de um câncer, tudo desmoronou.

Quando Fernando Morreu 02

Virgínia entrou em depressão e perdeu o controle de sua vida, passava o tempo todo trancada em casa sem vontade de viver, abandonou a loja de eletrônicos que era sócia e se afundou na tristeza. Sua filha Letícia não suportava mais a situação da mãe e foi morar com a avó materna, foi quando Virgínia viu que precisava agir. Antigos medos e angustias começaram a lhe assombrar novamente, entre eles os novos relacionamentos.

Antes de FernandoVirgínia se relacionava com homens e mulheres, o que era inaceitável para a sua família, diziam que ela era indecisa, promiscua e que não passava confiança, afinal ela podia trair com ambos os sexos. Casar com Fernando foi se libertar de todas as críticas e julgamentos, mas agora com a sua partida, ia ter que conviver novamente com todos os julgamentos e o medo de não ser aceita.

Quando Fernando Morreu 03

O conto retrata o conflito de pessoas bissexuais, a necessidade de se enquadrar em um rótulo que seja aceito pela sociedade, que seja de alguma forma compreendido, mesmo que minimamente. A autora, Beatriz Lúcio, consegue passar do luto a vaidade da conquista, da liberdade dos desejos ao julgamento dos mesmos. O conflito e as dores não são aprofundados, o que é compreensível quando falamos de um conto, mas é facilmente possível preencher as lacunas com o que é dito e sentido por Virgínia. Precisamos ser mais empáticos! Precisamos ser mais tolerantes!

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