segunda-feira, 11 de julho de 2016

Respirei, respirei e só vi amarras...


Outro dia sonhei que estava em uma casa branca, sofá branco, almofadas creme, retratos de sorrisos, janelas abertas, o sol invadia e chamava para a vida. Observava as pessoas circulando pela casa, a alegria era contagiante, as conversas eram leves e o ambiente fazia as risadas ecoarem por todos os lados. Uma mão estendida me fazia um convite para participar, me guiou para o jardim, a grama era verde, toalhas estendidas, livros abertos, mesas de pic-nic.

Atravessamos a rua, os vizinhos sorriam, os cachorros latiam, a mangueira deixava a água correr, estranho seria se alguém me dissesse que não estamos em um cenário de um filme. Dobrei no beco que separava duas casas, uma creme e outra laranja, entrei na segunda, lá a risada ainda era solta e o assunto era leve, me ofereceram um lugar para sentar e um pedaço de pão. Estava assustada, só queria saber o nome desse filme. Quer ficar? Espera, aqui não tem lugar para mim.

Eu tenho uma vida lá, minhas coisas, meu mundo, está tudo lá! Eu sei, não precisa repetir que eu só estou com medo, eu admito, mas é complicado cortar as amarras, estou paralisada, estou decepcionada comigo. Não é tão fácil assim, eu sei o que devo fazer, mas não consigo, estou petrificada e a raiva só cresce sem que eu consiga me mexer. Claro que eu quero ficar, quero muito, mas... para de me questionar, eu não sei o motivo, a razão, só sei que não posso, talvez não seja digna para isso, mas eu queria poder ficar, queria, de verdade.

Me levantei e sai de dentro da casa, lá também tinha um imenso gramado que dava para a rua, observei o movimento, as pessoas me cumprimentavam, eu respondia, algumas me perguntavam se eu ia ficar, eu dizia que estava pensando, outras diziam que ia ter show na próxima semana, caso eu ficasse, é talvez eu fosse ficar. Parecia tudo tão utópico, aquilo eram férias prontas para retornar para a vida real, aliás, vocês não possuem vida real? 

É uma questão de escolha, ou você entra de cabeça e tenta ser feliz, ou passa o resto da vida preso aos medos. É uma escolha, ou fica, ou vai, aqui, ou lá, é uma escolha, qualquer um pode faze-la. Respirei, olhei para o céu e respirei, fechei os olhos e respirei, olhei para a casa e respirei, respirei, respirei. A passos vagarosos retornei para a casa, meu lugar ainda estava vazio, sentei, respirei novamente, me ofereceram pão e apontaram para o recipiente de manteiga , passei. A conversa estava séria, decidiam algo, debatiam, argumentavam, gesticulavam, é talvez não seja tão utópico assim, talvez eu consiga, é talvez se eu tentar, eu consiga. Acordei. Amarrada.

bonne nuit, bonne chance

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