terça-feira, 25 de dezembro de 2018

[LIVRO] A Vovó Chamou o Diabo Para a Ceia - Juliana Daglio

A Família Vieira tinha perdido sua matriarca há poucos meses. Olegna já estava doente e sentia que o pior estava para acontecer, decidiu deixar uma última mensagem para seus herdeiros em vídeo, esse que só seria assistido antes da ceia de natal, quando todos estivessem reunidos na antiga casa. O que ela teria para contar que não poderia ter sido dito em vida?

Aparecido, um de seus filhos, ficou responsável por guardar e transmitir a gravação no momento certo. Ele que sempre deixava claro que tinha cuidado da velha nos últimos minutos. Carlota se fazia presente, a irmã mas velha, a beata que julgava a todos por seus pecados. Mário Alberto, trouxe duas de suas filhas, a desavergonhada Luana e a preguiçosa Eliana. Já Luísa estava acompanhada pelo filho João Paulo, eram inseparáveis.

Assim, se reuniram os quatro filhos de Olegna e três de seus onze netos. Estavam todos incrédulos com o que tinham acabado de assistir, como ela poderia ser tão perversa? Devia ser a idade, só pode! O que tinham feito de tão mal para aquela velha? As portas estavam cerradas, os telefones mudos, agora todos estavam presos com suas consciências e o julgamento de seus parentes.

Fiquei bem surpresa com o enredo, esse é o primeiro trabalho que eu leio da Juliana Daglio e me surpreendeu bastante, ela conseguiu pegar um tema que remete a fraternidade e colocou doses de humor e muito suspense, sem ultrapassar a linha da bizarrice. Impossível não se identificar com as intrigas e briguinhas de família, aquele passado que sempre vem a tona. Recomendo imensamente!

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

[LIVRO] Um Espelho para Vênus - Cristiane Schneckenberg


Além da leitura em si, esse livro me trouxe o mundo das Leituras Coletivas de presente. Sempre tive uma certa dificuldade em compartilhar minhas leituras favoritas com alguém, pois era raro encontrar quem lia os mesmos títulos que eu escolhia, mas hoje, após essa experiência, quero isso para sempre! 

É muito interessante perceber o quanto cada leitor tem uma visão diferente da obra, o quanto sua visão de mundo e experiências interferem no entendimento do enredo. Cada personagem ganha um peso diferente, as ações são vistas por ângulos diversos e o enredo vai sendo construído de forma distinta para cada leitor, mesmo que as palavras sejam as mesmas. 

Um Espelho para Vênus traz a história de Sara, uma sexóloga carioca, que luta pela valorização de sua profissão, o reconhecimento da importância de estudar e tratar questões relacionadas a área promovendo um bem estar e melhorando a qualidade de vida de seus pacientes. Atualmente, ela atende em um hospital carioca e participa de grupos de pesquisa.

Em suas observações, Sara, além de ajudar suas pacientes, questiona o seu relacionamento com Miguel, um cardiologista que atende no mesmo hospital em que ela trabalha. Os dois se conheceram na faculdade, descobriram juntos em qual área se especializar, porém, por enquanto ela entendia e apoiava ele na decisão de cuidar do coração, ele não conseguia levar a sério a escolha dela.

O enredo vai se desenrolando a medida que Sara vai crescendo em sua carreira, a personagem é muito bem construída, uma mulher forte que não se deixa abater por críticas e falta de apoio, desde o início ela sabia o quanto era uma área complicada de trabalhar, porém, essa resistência, só fazia com que ela buscasse trazer cada vez mais alternativas para acalentar as angustias de seus pacientes e quebrar os tabus que a sexologia traz.

Infelizmente, é comum no ambiente hospitalar dar maior importância a especialidades que lidam direto com a morte do corpo, do que especialidades que lidam com a morte minguada da alma, mesmo que no fim, todas sejam fundamentais para o bem estar do paciente. Miguel não acreditava na importância da sexologia para os pacientes, assim como também não apoiava o trabalho de Sara, esse que era bastante elogiado, até mesmo internacionalmente.

Miguel definitivamente é um atraso de vida, além de não apoiar Sara profissionalmente, ele escolhia suas roupas, escolhia para onde ir, o que fazer, eles mantinham um relacionamento abusivo que Sara tentava encontrar desculpas para seus atos. Diante de tanta sutileza, passei boa parte da leitura me questionando até que ponto é tentar agradar o parceiro e entender o seu jeito, ou quando chega o ponto de dar um basta em tantas exigências e decisões unilaterais.

Alias esse foi um assunto bastante discutido no grupo de Leitura Coletiva, se o relacionamento de fato era abusivo, ou não. Se era aceitável o modo que ele agia, ou não. Se Sara devia continuar justificando os atos de Miguel, ou não. Se o casal devia permanecer juntos, ou não. Se as pessoas que estão dentro de um relacionamento abusivo percebem o que está acontecendo, ou só quando extrapola todos os limites. 

Além do romance, Um Espelho para Vênus também traz muita informação, o leitor consegue acompanhar o relato de algumas pacientes de Sara e o desfecho de cada caso, ler suas histórias e aflições, assim como sua evolução. Alías, um dos médicos sexólogos que aparece no enredo é baseado no Dr. Gerson Lopes, autor do blog Vinho e Sexualidade.

A Leitura Coletiva foi organizada pela LC Comunicações, leitores de várias partes do Brasil puderam participar e contribuir com suas observações. A autora, Cristiane Schneckenberg, também foi bastante participativa, conseguiu responder diversas perguntas do grupo relacionadas a leitura e a sexologia como um todo. Agradeço demais pela oportunidade e espero que seja só a primeira de muitas!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Uma carta do EU do agora para o EU do futuro


Ei garota! 
Olha quantas coisas mudaram, você continua insistindo em abraçar o mundo com as pernas, mas, finalmente, aprendeu a importância de respirar nesse percurso. Sempre te observo quando você prende o ar na expectativa de parar o tempo, mas me orgulha em minutos depois você perceber que ainda não desenvolveu esse superpoder, mas o sentimento de fracasso não te preenche mais. 

Respira, garota, respira! 

O tempo. Olha como ele é traiçoeiro, aquela velha sensação de que foi ontem, mas na verdade foi há anos, também sei como isso funciona, é assustador, eu sei, mas olha em volta e percebe, ou melhor, reconhece tuas conquistas. 

Teus objetivos são diferentes dos de hoje, mas mudaram de acordo com o percurso, não foi falta de insistência, mas de senso. Às vezes colocamos algo na cabeça e insistimos, insistimos e simplesmente insistimos, nem percebemos que aquilo não faz sentido, apenas insistimos. Essa teimosia da gente cansa, maltrata e até enlouquece. 

Percebi que com os anos você aprendeu a questionar se realmente vale a pena a insistência, e não apenas questionar se insistiu de menos. Me conta: tá valendo a pena? 

Lembra do princípio: Respira, garota! 

Finalmente você aprendeu a controlar a ansiedade, aprendeu a driblar a sensação de que o mundo vai se despedaçar a qualquer momento. Era cansativa essa sensação, esse peso, lembra? As coisas parecem mais fluidas agora (no futuro), pelo menos, espero que sim, mas a leveza do tempo é uma conquista diária. 

Respira, garota, respira! 

Tenho orgulho de quem você se tornou, do que você conquistou, do seu legado, cada coisa tem o seu tempo e eu ainda estou aprendendo, mas você já incorporou esse ditado nos seus dias. Um dia de cada vez, lembra? 

O amanhã é tão distante, mas olha para você, chegou ai com alguns arranhões, mas muitas vitórias, você está onde eu desejo, trabalhou e alcançou, se reinventou, mantéu seus ideias, repensou, insistiu, e, principalmente, aprendeu a respirar. 

Respira, garota! 

Neyara Furtado Lopes

Carta desenvolvida na oficina de Escrita Criativa ministrada no Theatro José de Alencar

[Cola&Bora] Clube da Caixa Preta | Sociedade das Relíquias Literárias

Tá sentindo? Brisa de bons ventos, gostinho doce de retorno, cheirinho suave de quem está se reconectando ao que nunca deveria ter sido esqu...